quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Os salvadores da pátria e o precipício

A primeira sensação que vem é a do precipício. Agitando os braços loucamente, os salvadores da pátria estão nas margens de rio caudaloso chamado Brasil, oferecendo toda a sorte de bugiganga ideológica, como se o país fosse um imenso mercado de peixe. Nós, enquanto isso, boiamos ao sabor da correnteza, tendo a nítida impressão que é o precipício mesmo o nosso destino.

Colocar as coisas em ordem é tarefa para um presidente arrojado e que saiba se cercar de gente tão ou mais competente que ele

Os salvadores da pátria e o precipício - Colocar as coisas em ordem é tarefa para um presidente arrojado e que saiba se cercar de gente tão ou mais competente que ele | StockSnap/pixabay

Não precisamos de salvadores da pátria, não precisamos de populistas, nem de covardes e arrogantes que prometem o impossível para ter o doce prazer de sentar na cadeira mais cobiçada do país.

A hora é de dizer não.

O Brasil tem problemas imensos de abandono, obras não concluídas, coisas feitas pela metade, frutos do imediatismo populesco que tampa o Sol com a peneira e não resolve as questões de infraestrutura que minam todos os esforços de desenvolvimento por aqui.

É de se lembrar que mais da metade da população não tem acesso a saneamento básico, o que na minha visão constitui o aspecto mais desumano dentro dessa absoluta e centenária falta de planejamento.

Temos a corrupção como norma suprema vigente, desde as mais diminutas ações até as grandes obras que ou bem param pelo caminho, ou levam décadas para entrar em funcionamento. Não raro com problemas de infraestrutura.

Então, penso eu, é importante que se resolvam as questões estruturais dos portos, aeroportos, linhas férreas, rodovias, sistema de saúde, saneamento, geração de energia, mobilidade urbana, educação e trabalho, antes de se estender a área urbana das cidades o que só aumenta o problema, antes de inventar moda para ser eleito.

Nesse emaranhado de coisas incompletas que fazem o país parecer um Frankenstein, inverter a ordem das coisas devolvendo o poder e a arrecadação aos municípios em primeiro lugar e às unidades da Federação em segundo e só no fim da linha ao Governo Federal é que vai começar a reverter o modelo centralizador e anacrônico do Brasil.

Pensar que em Brasília se decidam políticas públicas para aplicação de norte a sul é a coisa mais sem pé nem cabeça que pode existir. O desenvolvimento do país é esse Frankestein por conta disso.

Colocar as coisas em ordem é tarefa para um presidente arrojado e que saiba se cercar de gente tão ou mais competente que ele e não de falastrões oportunistas que querem impôr a própria vontade de seus egos inflados achando que dando é mais fácil do que ensinar a fazer.

Fomentadores da miséria para justificarem sua pseudo bondade, seu pseudo altruísmo. Mantenedores da política do "um pé de bota antes de eleito e o outro depois". Acredito que os brasileiros estão fartos disso, embora muitos ainda apoiem esse estado de coisas.

Precisamos de um administrador, de alguém que saiba o que deve ser feito e que tenha experiência larga nessas questões.

Nem galãs, nem pai do povo, nem mamãe, nem rostinho bonito, nem bravatas iradas.

Precisamos de um administrador.

Que coloque o Estado do tamanho certo e das atribuições específicas de organização e hierarquia como numa grande empresa. Distribuindo as responsabilidades a partir das cidades, de baixo para cima, exatamente ao contrário do que temos hoje.

Estado mínimo, não significa Estado ausente. Estado mínimo é deixar as pessoas trabalharem, produzirem, desenvolverem ideias e fazer o papel de fiel de balança quando necessário. Já o Estado ausente é aquele em que vivemos hoje, onde os Poderes se confrontam e atropelam as atribuições uns dos outros visando preservar suas respectivas "boquinhas".

Se arrumarmos as questões de infraestrutura, aos poucos acabaremos com a pobreza, com a bandidagem, com os atravessadores, com os cambistas, despachantes e toda sorte de gente que suga a energia das pessoas aproveitando as rachaduras da nossa máquina velha e carcomida e por extensão acabamos com a corrupção.

Tecnologia existe, questão de colocar em funcionamento. A pessoa com capacidade para conduzir esse processo, também existe, mas não fará tudo o que falta. Isso vai levar 20 ou 30 anos, desde que saibamos afastar toda a galerinha faminta para sentar na cadeira mais importante do país e nossa arma não é o voto, mas a atenção em saber quem são de verdade os que pleiteiam esse voto. A palavra-chave é "antes", porque depois de "Inês morta", restará apenas o enterro.

Eu sei que a pressa pode nos trazer outra caricatura para ocupar o cargo, então sugiro conhecer o trabalho de todos antes de sair fazendo campanha para gente que coloca o Brasil na lupa de um único problema, cuja única intenção é sentar na cadeira e usufruir das benesses que ela proporciona.

Nossa impaciência ou preguiça, delegou as funções nobres do país a muita gente sem qualificação e agora que está doendo muito no nosso bolso e na nossa vida é hora de aguentar como nunca fizemos antes e eleger aquele que reúne todos os requisitos para nos governar. Preste apenas bastante atenção.

Brasil. Não é dessa vez ainda. Melhorar é questão de tempo. Sejamos sensatos. Há muita lama para pisar e limpar.

Pedro Reis é jornalista, ambientalista e artista plástico. Editor do FarolCom e do FarolCom Inteligência

Pedro Reis
FarolCom Inteligência (FCI)

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